E SE A FILOXERA NUNCA TIVESSE EXISTIDO?

Por 14 setembro, 2017 1 Permalink

SE A FILOXERA NUNCA TIVESSE EXISTIDO…

Mais de 70% dos vinhedos da Europa foram dizimados por um pulgão, chamado Filoxera. Vinda dos Estados Unidos nos (então) modernos barcos a vapor, que eram rápidos o suficiente para cruzar o Atlântico dentro do ciclo de vida do “bichinho”, a praga atingiu as plantações europeias na segunda metade do século XIX.

filoxera

 

Não sem razão, são inúmeros os escritos que ressaltam os danos causados por este inseto.

Mas… E se a filoxera nunca tivesse existido, onde estaríamos hoje?

O Blog consultou sua bola de cristal e faz 5 previsões sobre um passado que nunca aconteceu:

 

  1. Beberíamos menos diversidade

Antes da Filoxera praticamente todos os vinhedos da Europa eram compostos por clones. Ou seja, o agricultor selecionava as melhores plantas e as reproduzia (clonava) por toda a extensão do vinhedo. Esta prática resultava em vinhas com uma mesma composição genética que, por sua vez, geravam uvas semelhantes e, consequentemente, produziam sumos potencialmente com as mesmas características.

Hoje, ainda se utiliza o processo de clonagem, mas com variações entre as plantas, a fim de que o vinhedo tenha características distintas e possa responder de modo heterogêneo às pragas e outras intempéries. Isto melhora as chances de sobrevivência do vinhedo, já que, por genética própria, um grupo de vinhas poderá ser mais resistente a determinado acontecimento, enquanto outro grupo suportará melhor outro tipo de adversidade. A utilização de plantas diferentes resulta em maior variedade (diversidade) na produção vitivinícola.

  1. Beberíamos menos variedades

A busca por uvas que pudessem resistir a filoxera levou os vinhateiros a trabalhar com diferentes tipos de uvas. Este processo de tentativa e erro na expectativa de vencer a praga acabou por expandir o conhecimento e a produção de castas menos usuais, aumentando a variedade de uvas que consumimos em nossas taças.

 

  1. Áreas fora da França seriam menos desenvolvidas

Se hoje a França é grande referência em vinhos, no século XIX não havia nada melhor. A morte dos vinhedos franceses levou ao êxodo de muitos produtores, enólogos e agricultores. Regiões como, por exemplo, Espanha (onde a filoxera chegou cerca de 20 anos depois do primeiro foco na França), América e Austrália, foram muito beneficiadas com as técnicas e os conhecimentos introduzidos pelos emigrantes, muitos dos quais experimentados na produção do vinho, experimentando um verdadeiro salto de qualidade em sua produção.

 

  1. O Chile não teria despontado no cenário internacional

Todos os olhos do mundo se voltaram para o Chile quando, nos anos 1990, descobriu-se que a Carmenere, uva considerada extinta pela filoxera, era vinificada naquele país inadvertidamente como uma variedade de Merlot. A partir daí os carmenere chilenos se tornaram uma moda. Desde então o Chile foi capaz de melhorar enormemente sua produção e hoje oferece ao mundo vinhos de alta qualidade.

 

  1. Haveria menos vinho e menos regiões produtoras no mundo

Até hoje não há um remédio para extinguir a Filoxera. Para evitar os efeitos da praga as videiras europeias (vitis vinifera) são plantadas sobre um porta-enxerto (ou cavalo) de vinhas americanas (vitis lambrusca), estas últimas resistentes ao pulgão, mas inadequadas à produção de vinhos finos.

Com esta proteção extra, as sensíveis videiras europeias foram capazes de produzir mais vigorosamente e sobreviver em terrenos menos apropriados. A consequência disso é maior produtividade por planta e também a ampliação das plantações sobre áreas não tradicionais, multiplicando o volume geral de produção e a quantidade de regiões produtoras.

 

NOTA: Existem incontáveis caminhos para se chegar a um mesmo lugar e é bem possível que, com ou sem filoxera, a realidade de hoje fosse mais ou menos a mesma. Longe de ser um artigo científico, este texto é um misto entre exercício bem humorado e provocação para lembrar que há sempre um outro lado da taça, esperançosamente meio cheio.

1 Comment
  • Sabrina dos Santos Trézze
    setembro 14, 2016

    Diogo, que surpresa boa o seu blog!
    O tema Filoxera, para mim, sempre teve aquele caráter de lenda, história..e, apesar de se tratar de uma adversidade, sem dúvida modificou todo o cenário mundial do vinho para melhor e você explica tudo isso com maestria.
    Parabéns pelo artigo e trabalho. Adoro prestigiar colegas que me tragam informação de qualidade.

    Já te salvei no favoritos!

    Abraços e Bons Vinhos!

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