2017 foi um ano bastante conturbado. Muitos contratempos, muitas mudanças pessoais e profissionais e muitas incertezas, mas que agora estão finalmente dissipadas.
Peço desculpas a meus leitores por ter deixado isso se refletir no blog, com poucas atualizações nos últimos tempos.
Contra todas as probabilidades, 2017 foi também um ano em que tive a oportunidade de beber grandes rótulos e grandes experiências. Se os anos fossem medidos exclusivamente pelos vinhos degustados eu poderia dizer que foi meu melhor ano (até o momento).
Então, correndo atrás do tempo perdido, e considerando que no Brasil o ano só começa depois do carnaval, quero comemorar o fim deste ciclo brindando com você o que de melhor esteve na minha taça nestes últimos 12 meses.
Para tornar mais fácil a leitura, dividirei este post em 5 partes:
Parte 1 – 2003: UMA SAFRA DIFÍCIL
Pelas restrições impostas nas respectivas denominações de origem aos produtores de Bordeaux, as condições climáticas (safra) têm considerável relevância para vinhos desta procedência (sobre o assunto: o dia em que a safra não importar).
2003 foi marcado por um verão muito quente, proporcionando vinhos muito encorpados, tânicos e alcoólicos. Os críticos americanos gostaram e os europeus implicaram, gerando até polêmica e quebra de protocolo entre Robert Parker e Jancis Robinson, mas essa é outra história.
No geral foi uma safra sem muita consistência. Alguns produtores fizeram vinhos incríveis e outros erraram na mão. As apelações mais ao norte, com solos argilosos mais profundos, capazes de armazenar água fresca, propiciaram vinhos mais balanceados e de maior acidez. É o caso de Pauillac e Saint-Estèphe. Eis aqui dois exemplos de expoentes da safra que confirmam esta perspectiva:
Cos d’Estornel 2003
(RP97 – WS 92 – JR 17,5 – WE 95)
Deuxieme Cru na classificação oficial de Bordeaux (1855), o Château Cos d’Estornel costuma ser um vinho com bastante intensidade e concentração, ao estilo moderno. “Elegância masculina”, como descreve a equipe da casa. Tem grande potencial para envelhecimento e os 14 anos de idade caíram muito bem.
O nariz é franco. Aromas de alcaçuz, pétalas de flores (quase murchas) e fruta ampla, amplíssima e madura.
A boca confirma e adiciona chocolate amargo e café. Estão lá o tijolo e o terroso, típico de Saint-Estèphe.
Evolui em taça, abrindo ainda em mais acidez, mais suculência na fruta, e rejuvenesce os elementos anteriores, mostrando que ainda é capaz de aguentar bons anos em garrafa.
Grande estrutura, quase mastigável e um final profundo.
Pontet Canet 2003
(RP95 – WS94 – WE91 – JR 16,5)
O Chateau Pontet Canet é muitas vezes apontado como prova de que a classificação oficial de Bordeaux (1855) está defasada. Este cinquieme cru de Pauillac é frequentemente melhor avaliado pela crítica especializada e vendido por preços maiores que muitos dos rótulos que lhe precedem na mencionada classificação.
Obteve 100 pontos de Robert Parker em 2009 e repetiu em 2010. Iguais 100 pontos da Wine Enthusiast em 2010 e outros 99 pontos para a safra de 2016. Em 2010, tornou-se o primeiro Château classificado de Bordeaux a receber o reconhecimento de agricultura biodinâmica, mas nem se importam em colocar esta informação no rótulo. Segundo eles o estimulo é qualidade e não a certificação.
Aromas com muita nitidez. Balsâmico, caixa de charuto, tabaco, sus bois e frutas negras.
A boca apresenta um ataque com o dulçor de caramelo, chocolate e moca. Aqui a fruta aparece madura, com intensidade e elegância. O vinho parece mais novo em boca. A palavra aqui é equilíbrio.
Enorme estrutura e taninos agradáveis e vibrantes. Grande acidez e final longo.
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