Quanto valem 91 pontos?

Por 4 setembro, 2016 1 Permalink

Quanto valem 91 pontos?

Entro em uma loja de vinhos procurando um chardonnay e o vendedor me oferece um chileno “imperdível”. Insistia que era um grande negócio, pois, o vinho obtivera 91 pontos Robert Parker (RP) e custava muito menos do que os rótulos com esta pontuação. Nem aquele “francês famoso” teve tantos pontos, argumentava o vendedor.

Sem dúvida, Robert Parker é um grande crítico de vinhos. Suas palavras devem ser consideradas.

O que o vendedor não disse é que este mesmo rótulo tinha recebido pontuações bem menos expressivas, abaixo de 85, de outros especialistas igualmente renomados.

O vendedor também não disse que quem concedeu os tais 91 pontos foi Luis Gutierrez. Quem? O associado de RP, designado para avaliar os vinhos chilenos.

Mas o mais importante, e que o vendedor também não disse, é que, segundo o crítico, o vinho era bom porque se apresentava muito rico, com intensa presença de madeira e acidez média-baixa.

E tudo que eu queria era um vinho leve, fresco, frutado e sem madeira. Justamente o oposto das qualidades que ascenderam o vinho aos 91 pontos.

O sistema de pontuação foi criado para auxiliar o consumidor, em uma época em que pouco se publicava avaliações de vinhos. São importantes para um rápido referencial qualitativo, mas perdem o sentido sem descrição ou fundamento da avaliação.

Hoje, as pontuações são utilizadas como argumento de vendas e de precificação, muitas vezes em prejuízo do consumidor.

Voltando a Parker, quem procurar em seu site informações sobre o seu sistema de pontuação, encontrará uma nota ressaltando que os pontos são atribuídos para medir de forma objetiva a qualidade de um vinho. São levados em consideração a classe ou nível no qual se inserem. Ou seja, a pontuação tende a ser mais rigorosa com vinhos de classe superior. RP ainda afirma que nenhum sistema de scoring é perfeito e que é fundamental considerar a descrição do vinho, o estilo e a personalidade.

Isso sem falar que as predileções do profissional podem ser inteiramente distintas do que agrada o meu paladar. Para ficar com os mesmos personagens, o próprio Parker admitiu ter uma certa incompatibilidade com os vinhos da Borgonha, e é bem provável que isto reflita em algumas de suas pontuações.

A conclusão é que os 91 pontos não são critério absoluto, não servem para comparar vinhos de classes ou estilos distintos e, mais do que tudo, de nada valem sem que se considere a referência do crítico e a descrição, os fundamentos, da nota concedida.

Para acertar no seu paladar, preocupe-se mais com a crítica (descrição) e com o crítico do que com os pontos. Ah, e na dúvida sobre o crítico, vale consultar mais de um.

1 Comment
  • Patricia Mourão
    setembro 7, 2016

    Estava faltando um blog assim, com informações robustas mas ditas de forma leve!
    Vou te acompanhar e seguir as suas dicas!

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