O MELHOR ANO DA MINHA VIDA (até agora) – Parte 4
Se os anos fossem medidos exclusivamente pelos vinhos degustados, eu poderia dizer que 2017 foi meu melhor ano (até o momento).
Continuando a série dos vinhos que tomei no ano passado, eis aí a quarta parte da série “O Melhor Ano da Minha Vida (até agora)”
Harmonização Para a Vida Inteira
Depois de 5 anos rindo das minhas piadas sem graça, exercendo gratuitamente o papel de revisora geral deste blog, sendo minha companheira e melhor companhia, já era hora de fazer aquela proposta.
Medidas as circunstâncias, achei que um jantar e, claro, um bom vinho poderia apoiar meu argumento, massageando o espírito e a prudência da interlocutora, possivelmente cética depois de tantos anos.
Como prometia o antigo cartaz de Ramos Pinto: Vinho dá “Alegria aos tristes e audácia aos tímidos.”
Além de alguns gramas de ouro para ornar o dedo, providenciei um de seus pratos prediletos: pato. Nota: Dispensa-se o trocadilho quanto a quem, comprou, preparou ou pagou o pato, já que recaem sobre mim todas estas condições.
Mas e o vinho? Certamente não era hora de arriscar. O que a faria brilhar os olhos e o paladar?
No filme Batman vs. Superman, é um Chateaux Margaux que o sofisticado e multimilionário Bruce Wayne resolve abrir após longa sequência de suas reminiscências de vida.
E lá fui eu, com o coração aberto, munido de um pato e seguindo a dica do super-herói. Para colocar mais um temperinho, escolhi a safra de 1983, o ano do nascimento dela.
Produzindo vinhos desde o século XVI, o Chateaux Margaux possui tanto prestígio que deu nome a uma região inteira de Bordeaux.
Ostentando o título de Premier Grand Cru Classé está, e sempre esteve, no topo das classificações de origem. Opulento, rico e multidimensional são adjetivos que, ano após ano, costumam escoltar as resenhas criticas.
Enófilo inveterado Thomas Jefferson escreveu em suas memórias “there cannot be a better bottle of Bordeaux”, referindo-se a safra de 1784. Friedrich Engels que, junto com Marx, desenvolveu o manifesto comunista apregoou “What is happiness? Chateau Margaux 1848.”
Superando qualquer viés ideológico ou político, Margaux 1983 é incontestavelmente excepcional, mas sofreu a pecha de vir na sequência da safra de 1982, considerada uma das melhores de todos os tempos. Apesar de eclipsado pela colheita do ano anterior, ainda hoje críticos discutem se 1983 e 1982 não estão no mesmo patamar.
Discussões à parte, posso garantir que o nosso estava extraordinário. Enquanto ela se distraia saboreando o dedo preenchido com a aliança, saboreei a taça e fiz, discreta e rapidamente minhas anotações de prova:
Abre com salinidade e rosas, frutas discretas. Evolui para ervas de Provence, carvalho e sous bois na camada seguinte. As frutas crescem, maduras mas sem muito dulçor, o frescor impera. Definitivamente equilibrado. Mas ainda segue evoluindo a cada gole, aparecem as especiarias. Nariz estaciona mas o palato continua evoluindo para charuto, chocolate, desviou para caça e quando acho que ele vai pro balsâmico, voltam os tons herbais e nova carga de fruta, agora mirtilos com acidez em alta. Taninos finos um pouco granulados. Boca cheia e macia, muito macia. Minha taça acabou em flores murchas. O nariz o tempo todo apresenta pimenta preta. Final longo, muito longo.
Entre tudo isso, não estou bem certo o que a comoveu.
Ah, a propósito, ela disse SIM! Estou certo que será uma harmonização para a vida inteira.
maio 21, 2018
Que linda descrição deste monento único e emocionante! Boca cheia e macia de vinho, olhos cheios de lágrimas e coraçoes em harmonia.
maio 22, 2018
Ludmila. Foi mesmo especial e único.
maio 21, 2018
Uau! Ocasião especial merece vinho especial! Parabéns!
maio 22, 2018
Obrigado pela visita ao Blog. Venha mais vezes!
maio 25, 2018
Adorei!!! Confesso que nem liguei pro vinho, mas a história de como aconteceu e os motivos da escolha foram emocionantes!