
Os Estados Unidos estão entre os maiores mercados de vinhos do mundo, em volume e em valor. Segundo a revista Forbes, em 2023 o setor foi avaliado em cerca de USD 107 bilhões, e continua sendo um dos que mais cresce em termos de consumo e produção.
Aproximadamente 40% desse mercado é de vinhos importados, em sua maior parte vindo da Europa.

No primeiro mandato de Trump, os produtos europeus (inclusive queijos e vinhos) foram sobretaxados em 25%. Isso foi usado como artifício em meio a uma disputa comercial entre Boeing e Airbus. A tarifa vigorou entre outubro de 2019 e março de 2021. Posteriormente foi suspensa até 2026, fruto de um acordo entre a administração Biden e a Comunidade Europeia.
Durante a campanha que o levou de volta à Casa Branca, Trump afirmava abertamente que aumentaria as barreiras tarifárias em 10% a 20%, para proteger a indústria interna (o que inclui sua própria vinícola na Virginia).
Michael Kaiser (VP da Wine America, talvez a maior associação dos viticultores norte-americanos), prevê que a reeleição de Trump trará um aumento de tarifas em ainda maior proporção e que o setor de bebidas alcoólicas será envolvido em um turbilhão de disputas que nada tem a ver com a indústria.
Kaiser aponta que criar tarifas para importados gera uma distorção de preços e prejudica o mercado, principalmente na ponta da venda, deteriorando a oferta e a distribuição. E isso, sem contar com as retaliações dos demais países que prejudicarão a exportação de vinícola dos EUA.
Além das tarifas anteriormente impostas por Trump voltarem à mesa em 2026, no horizonte nuvens desenham uma palpável crise. Refiro-me às restrições e aumentos de impostos que a Europa se esforça em aplicar sobre as Big Techs, principalmente americanas.

Em campanha Trump chegou a ameaçar Emmanuel Macron de subir em até 100% as tarifas sobre vinhos e espumantes caso a França aumentasse os impostos pagos pelas gigantes digitais.
Muito embora o candidato ao cargo costume agir diferente quando é mandatário, não se pode desconsiderar a influência de um empoderado Elon Musk, que deve participar desse governo.
Taça meio cheia
Logo depois que Trump sobretaxou a importação de vinhos Europeus, entramos na pandemia da COVID-19.
Neste período o mercado nacional experimentou um excepcional crescimento, superior a 30%. Segundo a consultoria Winext, o Brasil foi o país que mais cresceu em consumo de vinhos durante a pandemia.

Porém, diante de tantas singularidades vividas naquele momento, é difícil fazer uma relação direta de causa e efeito direta entre o aumento das tarifas norte-americanas e a expansão do mercado brasileiro.
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Coincidentemente (ou não) a partir de 2021, quando as restrições sanitárias e as tarifas americanas arrefeceram, a curva de venda de vinho no brasil reduziu a inclinação. Hoje, pode se dizer que o mercado está quase estagnado, mas, definitivamente, não voltou aos níveis pré-pandêmicos. Ou seja, subiu de degrau e agora está consolidando sua notável ampliação.
Embora este blog não tenha percebido uma redução de preços, pudemos testemunhar uma ampliação da oferta em todos os aspectos: maior variedade de rótulos, diversidade de origens e disponibilidade de safras diferentes – algo que até recentemente era difícil encontrar.
O vinho se tornou assunto presente nas rodas de conversas e o mercado de consumo amadureceu, com consumidores mais curiosos e atentos ao que colocam na taça e dispostos a pagar por um produto mais premium.
É intuitivo que barreiras comerciais impostas por um player tão importante como os EUA levem ao aumento do interesse dos produtores em mercados alternativos como o Brasil.
Ainda que se possa dizer que essa política protecionista desorganize o mercado e que o fator mais importante do preço do vinho no Brasil é o valor do Real frente as moedas internacionais, a tendência é que a parte da produção europeia acabe desembarcanado por aqui.

É improvável que o boom verificado na pandemia, em parte turbinado pela mudança comportamental forçada, por restrições sanitárias e pelo fechamento de bares e restaurantes, venha a se repetir.
Contudo, o mercado brasileiro ainda possui grande potencial de crescimento. Segundo dados da Euromonitor International, entre 2016 e 2021 foram consumidos mais de 20,2 milhões de litros no país e a expectativa é de esse volume dobre até 2026.
Ao observar o Brasil, exportadores veem um destino onde a apreciação do vinho vem se consolidando e um consumidor bastante aberto à novidades e disposto a investir em produtos premium e superpremium.
Mantidas as demais condições e cumpridas as promessas de campanha de Trump, o mercado nacional provavelmente vai se beneficiar com um considerável aumento na oferta de vinhos, principalmente europeus.
Este movimento tende a estimular o comércio interno e contribuir para o fortalecimento da cultura do vinho. Pelas leis da economia, com maior oferta é de se esperar uma contração dos preços, ainda que forçada pela redução das margens, em benefício aos consumidores.
Tenha você divergências ou afinidades com Trump, a eleição dele parece ser uma boa notícia na sua taça.
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