Cape Blend: Identificando a África do Sul

Por 6 fevereiro, 2017 0 Permalink

Todos querem um lugar ao sol e no mundo do vinho não é diferente.

Em um contexto marcado pela crescente complexidade e ofertas cada vez mais abundantes, as escolhas tendem a ser feitas pela identificação de um gênero (você já notou que é cada vez mais difícil encontrar um vinho conhecido na carta de vinhos?).

Alguns lugares ficam famosos por um tipo de uva (Argentina e Malbec, por exemplo), outros, como Chianti, têm o estilo tão marcante que muitas vezes transcendem o produtor ou o blend de sua composição.

E qual o caso da África do Sul?

 

Vinhedos em Stellenbosch

No início dos anos 1920 os sul-africanos criaram em laboratório a Pinotage (cruzamento entre Pinot Noir e Cinsault). Rapidamente a uva adquiriu uma má reputação. Maturação precoce e alto rendimento foram características exploradas (para o mal) por produtores de olho apenas na quantidade, mesmo em detrimento da qualidade. Além disso, foi preciso tempo para aprender a lidar com a nova casta, sua vinificação, maturação e envelhecimento.

Na segunda metade dos anos 1990, com o fim do regime Apartheid e a reintrodução do país no cenário mundial, cresceu a ideia de se acentuar um estilo próprio. Logo se começou a imprimir o termo Cape Blend para alguns cortes produzidos na província de Western Cape (região da Cidade do Cabo).

É consenso que o Cape Blend deve ter entre 30% e 70% de Pinotage em sua composição e os cortes mais comuns utilizam Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc, Petit Verdot e/ou Merlot (sim, as uvas clássicas de Bordeaux).

Porém, como a designação não foi ainda formalmente criada, alguns produtores defendem que o Cape Blend é aquele produzido com as características do terroir local, sem a necessidade de incluir a uva inventada na África do Sul.

Polêmicas à parte, com Pinotage ou sem Pinotage, é bem verdade que o Cape Blend apresenta uma grande tipicidade. Apesar de rico em fruta, são as pimentas, pimentões e especiarias que marcam o seu sabor. Em uma palavra: condimentado.

 

Sabores da África: Antílope, Chicken Curry e Bobotie

Esse paladar combina muito bem com os pratos locais temperados com coentro e pimentas africanas (lembre da Bahia), mas baseados em carne de caça e muitas vezes com influências indianas (curry e especiarias).

 

A exuberância, típica dos vinhos do novo mundo, quando equilibrada é simplesmente deliciosa, mas cansativa se não for calibrada com precisão.

 

De maneira geral, muitos produtores fazendo ótimos blends, a experiência vale a pena (entre tantas outras, vá sem medo em Kanonkope, Rust en Vrede, Klein Constancia, Groot Constancia, Thelema, Ernie Els, Merlust, Tokara, Glen Carlou e Boekenhoutskloof).

Eu tenho dúvidas se a África do Sul empreende uma busca ávida por identidade, um esforço para se distinguir e ser reconhecida, ou se ela possui tanta personalidade e autossuficiência a ponto de rejeitar a realidade posta e inventar uma uva própria e seu próprio corte.

Parreiras com vista para o mar

 

Mas por que não tirar isso à prova? As paisagens são inacreditáveis, alguns vinhedos ao pé da montanha, outros com vista para o mar. E quem compra vinhos no Brasil achará boas garrafas a preços incríveis.

Tenho a impressão que depois de vivenciar os ares de Western Cape e tomar os ótimos vinhos de lá, você vai concordar que, mais relevante do que as razões, é o fato de que o resultado é tão incomum quanto extraordinário.

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