O melhor vinho da minha vida?

Por 19 junho, 2017 0 Permalink

Muitas vezes me perguntam qual o melhor vinho da minha vida. Tive a sorte de provar excelentes vinhos, mas sempre fico na dúvida se a resposta correta para esta pergunta seria aquele de maior qualidade ou o que me proporcionou mais prazer.

“Altar” de vinhos degustados

 

Em geral, julgamos muito mais pela leitura sensorial do que pela objetividade do paladar. Vários estudos científicos demonstram como elementos que nada têm a ver com as características intrínsecas do vinho afetam nossa habilidade de determinar sua qualidade.

 

Para citar um exemplo, uma pesquisa de neurocientistas ligados ao Instituto de Tecnologia da Califórnia concluiu que o valor do vinho influencia na atividade do córtex órbitofrontal *.

 

Muito resumidamente, o estudo mostra que a capacidade cerebral de sentir prazer é mais estimulada quando experimentamos um vinho que identificamos como mais caro, potencializando, consequentemente, a sensação de recompensa. É ciência pura!

Em outras palavras, temos uma natural tendência de gostar mais ou reconhecer maior qualidade naquilo que subjetivamente identificamos como indicador de prestígio, ainda que isso não seja exatamente verdadeiro.

A boa companhia, ambiente, expectativas, a safra do seu ano de nascimento ou o vínculo que criamos com uma garrafa que trouxemos de viagem, por exemplo, também são decisivos para persuadir nossas preferências.

O que dizer daquele vinho com o qual você comemorou uma data importante: um pedido de casamento, o nascimento de um filho, seu aniversário? Maravilhoso, sem dúvida! Abra de novo a mesma garrafa e, certamente, sem a grande emoção, a sensação será outra.

Mas claro, enquanto um grande vinho tem capacidade de ser, por si só, uma vasta fonte de prazer e candidato natural a um lugar no pódio, um vinho ruim dificilmente será muito mais do que ruim.

Evidentemente, há fatores objetivos que contribuem para uma experiência inesquecível, digna de ser rotulada como uma das melhores da vida.

A taça ideal intensificará os aromas e distribuirá o líquido nas áreas mais sensíveis da língua, a temperatura correta, uma harmonização bem feita e o ponto exato de maturidade acentuarão o que de melhor o vinho pode oferecer.

 

A degustação técnica é uma forma de tentar neutralizar as subjetividades. Através de metodologia desenvolvida por especialistas, é viável apontar os indicadores de qualidade e descrever, tanto quanto possível, de que forma eles se apresentam.

Rótulos famosos de Bordeaux

 

Mas, ainda que este tipo de degustação disseque pormenorizadamente as características de seu objeto de análise, por óbvio, é incapaz de apontar objetivamente o prazer que o vinho entrega para cada paladar.

 

Os melhores rótulos da minha vida foram aqueles que conjugaram o prazer que bons (e até ótimos) vinhos são capazes de proporcionar, compartilhados em momentos de muita felicidade. Mas isso é assunto para um outro post… Acompanhe por aqui.

*Marketing actions can modulate neural representations of experienced pleasantness, publicado em http://www.pnas.org/content/105/3/1050.full.pdf

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