Qual a próxima tendência na indústria do vinho? Esta é uma das chamadas “perguntas de um milhão de dólares”, que todos gostariam de saber a resposta.
Atualmente andam em alta os vinhos que privilegiam a fruta (em contraponto ao uso excessivo de madeira que inundou o mercado em um passado recente), que representam a autenticidade de seu terroir (isto é, com intervenção humana mínima para assegurar as características e qualidades próprias de sua origem) e os naturais (orgânicos, bio, etc. que rejeitam a utilização intensiva de elementos químicos no processo produtivo).
E eis que então, olhando para frente, encontro todos estes elementos no passado.
Há 2000 anos os romanos produziam o vinho em talha, cujos métodos de vinificação ainda são preservados na região portuguesa do Alentejo.
No processo produtivo do vinho em talha o produto da colheita (uvas de vários tipos) são amassadas (ou pisadas) e seguem, geralmente com engaço, para dentro de uma talha de barro na qual acontecerá o processo fermentativo.
Nos meses seguintes o vinhateiro mexerá o conteúdo da talha, misturando o líquido com a parte sólida do mosto. Para controlar a temperatura da fermentação as talhas são umedecidas em sua parte externa ou envoltas com toalhas molhadas, permitindo a rápida troca de calor com o ambiente.
O formato da talha de barro permite que o dióxido de carbono, resultante do processo de fermentação, se acumule na parte superior do recipiente, reduzindo o contato com o ar e, portanto, servindo de isolante para evitar uma oxidação acelerada.
Cerca de 2 meses depois do início da fermentação as partes sólidas estarão acumuladas no fundo do recipiente e o vinhateiro “passa o vinho” para outra vasilha. Isto é, retira o líquido por um orifício no fundo da talha, este processo funciona como uma filtragem natural.
O vinho é colocado em outra talha de barro e recebe uma tampa de barro ou madeira, permitindo alguma oxigenação. Os romanos colocavam ainda uma camada de azeite para impedir o contato do vinho com o ar, mas este expediente não é mais utilizado pelo gosto e aroma que acabam por impregnar o vinho.
Alguns meses mais e o vinho estará no ponto para ser consumido. Com pequenas variações o processo acima descrito é tradicionalmente o mesmo para brancos e tintos, sendo comum a mistura dos dois tipos de uva.
Neste método tradicional não são adicionadas leveduras, enzimas, taninos e muitas vezes sequer anidrido sulfuroso, com pouca intervenção humana.
Quando bem feito, o resultado é um vinho autêntico e vivaz; macio, frutado com acidez vibrante e taninos jovens.
Em dezembro de todos os anos acontecem competições para escolher o melhor vinho de talha, durante as Festas Báquicas Vitifrades na cidade de Vila de Frades, em Beja, Portugal.
É improvável que o vinho de talha venha a ser a próxima tendência da indústria do vinho. A simplicidade (pouca complexidade) deste vinho e as dificuldades logísticas para um produto que deve ser consumido em até 18 meses levam a crer que a resposta para a pergunta de um milhão de dólares feita no início do texto ainda está por vir.
Porém, não deixa de ser curioso que a moda hoje aponte para vinhos com essência semelhante aos que são feitos há mais de 2.000 anos.
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